quarta-feira, outubro 12, 2011

Relação da musculatura lombopélvica com lesões musculares de membros inferiores

Olá leitores do Sports Medicine Brasil! Dando seqüência ao último post, essa semana discutiremos um assunto muito importante na medicina do esporte: musculatura lombopélvica e lesões no esporte.

No último volume do JOSPT foi publicado um estudo que avaliou a relação da área de secção transversa (CSA) de músculos lombopélvicos com o risco de lesões musculares nas coxas de jogadores de futebol australiano. A CSA dos músculos multifidos (MF), quadrado lombar (QL) e psoas maior (PM) foi aferida através de ressonância magnética (RM) e as lesões musculares foram registradas pelos médicos dos clubes durante a pré-temporada.

Os atletas que apresentavam menor CSA do MF apresentaram maior risco de lesão muscular de coxa, não observando-se associação entre a CSA do QL e PM com o risco de lesões durante a pré-temporada.

O músculo MF é um dos estabilizadores locais mais bem estudados (estabiliza segmentos lombopélvicos para que os movimentos do esporte fluam de forma eficiente e segura). A maior parte das publicações mostra que a manutenção de uma pequena contração deste músculo é suficiente para gerar estabilidade lombopélvica. Para que haja segurança na maioria dos esportes, portanto, o MF deve apresentar características de endurance.

Esses resultados nos mostram que, possivelmente, em esportes de colisão e com alta demanda muscular, uma maior geração de força pelo MF poderia ser necessária para evitar lesões. Portanto, poderíamos avaliar a área de secção transversa do MF na pré-temporada de determinados esportes, com o intuito de identificar atletas com necessidade de realizar trabalhos específicos de prevenção. Outra estratégia seria incluir treinamento específico para todos atletas, evitando assim gastos com exames complementares. A utilização de qualquer uma destas ações pode favorecer a prevenção de lesões musculares em esportes que exijam alta demanda.

J Orthop Sports Phys Ther 2011;41(10):767-775, Epub 4 September 2011. doi:10.2519/jospt.2011.3755

Pontos Importantes

Boa função dos estabilizadores lombopélvicos é importante na prevenção de lesões no esporte.

Menor CSA dos multifidos pode ser um fator de risco para lesões.

Possivelmente, além do endurance do MF, também sua força pode ser importante para prevenção de lesões em determinados esportes.

2 comentários:

Gustavo Nakaoka disse...

O tema CORE tem tido cada vez mais espaço nas discussões entre profissionais da saúde, seja pensando em estabilização como tratamento, como manutenção, ou mesmo com uma abordagem mais "fitness" que muitas vezes pode ser evidenciado em aulas de Pilates.
Este post vem a mostrar mais uma vez o quanto o treinamento de estabilização central (o tão famoso CORE) é interessante tanto para sedentários como atletas, profissionais ou não.
O paper publicado na JOSPT analisa de maneira bem direta a possível influência de uma boa consistência muscular dos estabilizadores do tronco nas lesões dos membros inferiores de jogadores de futebol australiano; notem que o futebol australiano ( http://www.afl.com.au ) é derivado tanto do "Caid" (futebol gaélico) como do Rugby e do Mam Grook, ou seja, é um esporte de extremo contato onde os atletas realizam chutes, tackles, mudanças rápidas de direção onde a qualquer momento o jogador que carrega a bola pode ser alvo dos adversários na disputa pela bola.
Atletas de esportes com tais características (corrida, chutes, mudanças de direção) são comumente acometidos por lesões ortopédicas como o Impacto fêmoro-acetabular, pubalgia e lesões nos MMII como um todo. Contudo, creio que este paper se relaciona largamente aos conceitos de pubalgia onde já estão descritos (apesar de a literatura não apresentar consensos) que ativações insatisfatórias dos estabilizadores lombo-pélvicos estariam relacionadas a esta síndrome típica dos atletas.
Se pensarmos nos gestos típicos deste esporte fica evidente o quanto a ativação correta de tal grupo é importante.
Por exemplo, nas mudanças súbitas de direção, a pré-ativação desta musculatura faz-se necessária para que em velocidade a coluna não seja alvo de forças de cisalhamento, mantendo-a estável por todo o gesto sem que hajam lesões. No que diz respeito aos chutes, uma das teorias mais aceitas prega que um mal sinergismo entre os estabilizadores lombares (principalmente o TrA) e os adutores podem geram forças cisalhantes no púbis, levando a tal quadro.
Porém, o paper mostra uma diferença significante muito maior no que diz respeito aos multífidos, apesar de não procurarem teorias para explicar tal relação com essa face posterior do CORE o interessante é, principalmente na avaliação pré-participação, a possibilidade de identificarmos atletas mais propensos a apresentarem lesões durante a temporada e com isso realizarmos um trabalho específico nestes indivíduos.
Como o Gustavo já colocou no post anterior, o tema CORE é absurdamente amplo e mesmo com diversas pesquisas no tema ainda pode gerar discussões muito interessantes, creio que talvez devamos pensar em futuramente discussões interativas para que possamos trocar experiências não só sobre o CORE, mas toda lesão esportiva, não importa se osteomioarticulares, cardiovasculares ou endócrinas pois de qualquer modo esta troca de informações com certeza beneficiará a todos nós!
Um abraço e boa noite a todos.

Leonardo Hirao disse...

A cada artigo de CORE que leio consigo entender um pouco melhor as possíveis lesões em atletas, principalmente, lesões por overuse. A mecânica do movimento, sobrecarga e atuação de forças no aparelho músculo-esquelético de atletas são pontos chaves a serem melhor compreendidos afim de tratarmos a causa de várias lesões. Além disso, reforça a importância do trabalho de prevenção de lesões, através de melhora de técnica, trabalhos de fortalecimento muscular específico, treinos progressivos e individualizados, etc.

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