quinta-feira, dezembro 22, 2011

O Médico a Beira do Ringue


            Boa tarde a todos, essa semana falaremos sobre um dos esportes que mais crescem no mundo, o Mixed Martial Arts (MMA). Um artigo publicado em junho de 2011 no jornal Current Sports Medicine Reports fala sobre as lesões e mecanismos de lesão do esporte.
            Rapidamente relembramos que o esporte iniciou em nosso país com o nome de Vale Tudo e inicialmente foi marginalizado, pois, tinha o estigma de briga de rua ou luta até a morte. Afim de renovar a imagem do MMA foram criadas regras como classificação de atletas em categorias por peso, duração de 3 a 5 rounds de 5 minutos cada, uso de luvas e proibição de golpes potencialmente fatais.
            O uso de luvas contribui com a diminuição da gravidade das lesões, sendo que as incidências de morte com trauma fechado na cabeça eram altas e após 3 anos do uso do equipamento foram reportadas 2 mortes.
            Um estudo retrospectivo sobre lesões no esporte realizado por Buse, analisou 642 lutas e verificou que 72% das lutas terminaram por lesões ou golpes que poderiam causar lesões (submissões). Dentre estas a causa mais comum é o trauma na cabeça (39,4%) seguido por causas músculo-esqueléticas (22,9%), estrangulamento (19,7%) e traumas mistos (18%). No entanto, não foram verificadas a gravidade dos ferimentos ou mesmo se os mecanismos que levaram ao final da luta geraram alguma lesão.
            Nos Estados Unidos os lutadores são obrigados a passar por avaliação médica antes e após as lutas, em geral, são solicitadas sorologias para HIV e hepatites B e C.
Durante as lutas deve-se seguir os protocolos do ATLS, realizando imobilização cervical, uso de prancha rígida sempre que necessário. Disponibilizar de ambulância UTI e ter conhecimento prévio de hospitais de referência. O tratamento de lacerações e outros traumas devem ser avaliados, em caso de lesões mais complexas é melhor realizar procedimentos em ambiente hospitalar.
Finalmente, o autor sugere uma lista de equipamentos que o médico a beira do ringue deve ter, afim de realizar uma avaliação e tratamentos adequados.

Mixed Martial Arts: Injury Patterns and Issues for the Ringside Physician
Seidenbrg PH
Current Sports Medicine Reports, 2011


Imagens publicadas no site: http://www.noticiasrss.com.br/Post/Default.aspx?id=277780&noticia=dana-white-iguala-status-de-jones-e-anderson--mas-nega-superluta

quarta-feira, dezembro 14, 2011

A musculação pode melhorar o seu alongamento?

Olá amigos do Sports Medicine Brasil, neste post discutiremos um dos assuntos mais polêmicos na medicina do esporte e do treinamento esportivo: os alongamentos.

Poucos assuntos são tão controversos quanto os alongamentos quando falamos de exercício, reabilitação ou esporte. Por isso escolhemos o artigo “Resistance Training vs Static Stretching: Effects in Flexibility and Strength” para este post. O objetivo do artigo publicado no Journal of Strength and Conditioning Research é comparar ganhos de flexibilidade obtidos com os treinamentos de força e alongamento.

Para o estudo os sujeitos foram divididos em um grupo que realizou treinamento de força em amplitude completa do movimento e outro grupo que fez alongamentos passivos. O treinamento de ambos os grupos durou 5 semanas e o estudo ainda contou com um grupo controle, que não realizou treinamento de força ou alongamento.

Após as cinco semanas de treinamento, houve melhora semelhante de flexibilidade entre o grupo que realizou alongamentos e o grupo que realizou treinamento resistido. Estes resultados sugerem que o treinamento com pesos, quando realizado em amplitude de movimento completa, pode gerar melhora da amplitude de movimento de magnitude semelhante a obtida por um programa de exercícios de alongamento.

Os resultados são importantes pois sugerem que um programa de treinamento resistido bem elaborado pode otimizar o tempo de treino uma vez que atua na força e flexibilidade. Como o estudo teve duração de apenas cinco semanas, é prudente investigar as adaptações em longo prazo antes de dar recomendações a favor ou contra o treinamento específico de alongamentos.

sábado, dezembro 10, 2011

Video Games e Gasto Calórico em Adolescentes


            Boa noite a todos, esta semana falaremos sobre a nova geração de video games interativos e gasto calórico em adolescentes. O aumento na prevalência de crianças obesas e com sobrepeso cresce, podendo levar ao desenvolvimento de obesidade na idade adulta e complicações metabólicas como diabetes tipo 2.
            Programas de exercício tradicionais podem ser efetivos na melhora de composição corporal, elasticidade arterial, sensibilidade a insulina e atividade física espontânea em adolescentes obesos. No entanto, os adolescentes obesos tem menor aderência a esses programas.
            Em 2009, no jornal Pediatrics foi publicado um artigo sobre gasto energético no uso de video games interativos como “Dance, Dance, Revolution”(DDR) e Wii pelo grupo de Graf et al.
            Nesse estudo, foram comparados os gastos calóricos entre os jogos DDR e Wii boliche e boxe. Através de um analisador de gases foram obtidos o consumo de oxigênio e através de um frequencímetro (polar) foi verificada a FC. Participaram 23 crianças de ambos os sexos com idade entre 10 e 14 anos.
            Tanto o consumo de oxigênio como a FC no DDR nível normal e Wii boxe foram equivalentes a uma caminhada moderada em esteira (4,2 – 5,7 km/h). Sendo que os meninos apresentaram maior gasto energético, principalmente, durante os jogos menos intensos DDR nível inicial e Wii boliche em comparação com as meninas.
            As crianças do estudo tiveram gasto de 360 a 390 kJ, praticando 30 minutos de DDR níveis inicial e normal ou Wii boxe. O uso de video games interativos pode ser uma alternativa em relação aos video games tradicionais, podendo iniciar uma rotina de atividade física, principalmente, em adolescentes obesos e/ou sedentários.

Playing Active Video Games Increases Energy Expenditure in Children
Graf et al.
Pediatrics 2009

domingo, dezembro 04, 2011

Mundial de Handebol Feminino no Brasil


            Bom dia a todos os leitores do blog, essa semana iniciou no Brasil o XX Mundial de Handebol Feminino, o evento é organizado pela International Handball Federation (IHF) e teve seu primeiro evento em 1957 na Iugoslávia.
            Participam 24 países que estão divididos em 4 grupos, a primeira fase começou no dia 2 de dezembro e vai até o dia 9. Classificam para as oitavas de final os 4 primeiros de cada grupo.
            Iniciam-se os confrontos de mata-mata, com os vencedores avançando até o final que sera realizada dia 18 de dezembro. O campeão terá vaga garantida no próximo Mundial e nas Olimpíadas de Londres.

            Lembrando que o Brasil já está classificado para Londres 2012, vale a torcida por uma boa colocação e quem sabe uma medalha. Para mais informações entrem no site: http://www.handballbrazil2011.com/pt/index.asp

sexta-feira, dezembro 02, 2011

Meias Compressivas e Performance de Corrida


Boa noite, leitores do blog, essa semana falaremos sobre a utilização de artigos esportivos de compressão tem se tornado cada vez mais comuns, acredita-se que tais equipamentos agem na hemodinâmica venosa, perfusão arterial, oxigenação de tecidos profundos e diminuição da oscilação muscular atuando diretamente sobre cinética de lactato e dor muscular. Com tantos fatores a favor desse uso existe uma tendência de utilização do uso desses equipamentos tanto por atletas de elite como para praticantes de atividade física que desejam melhorar seu desempenho esportivo.
            Nesse contexto, encontra-se o artigo publicado pelo Dr. Wolfgang Kemmler e colaboradores em janeiro de 2009, no The Journal of Strength and Condiotining Research. O objetivo desse grupo de pesquisadores foi determinar os efeitos do uso de meias de compressão em alguns parâmetros de performance de corrida em corredores homens saudáveis.
            Os resultados mostraram melhora significativa no tempo de teste, no trabalho realizado e na velocidade máxima alcançada no grupo que usou meias compressivas (compressão de 24 mmHg no tornozelo com diminuição membro acima, mas, estável na área do calcanhar 18 – 20 mmHg) em relação ao controle (meias de corrida normais). Enquanto, não houve alteração significativa no VO2max, na concentração final de lactato, VEmax, equivalente ventilatório , FC e RER.
            O estudo conclui que houve benefício de performance com uso de meias compressivas em corredores masculinos de 25 a 60 anos moderadamente treinados. Os dados coletados apontam uma melhora no LV1 e LV2 percentual em relação aos controles de 2,1 a 6,2% em relação ao controle, podendo não ser relevantes para justificar o aumento de performance. A principal justificativa para a melhora de performance seria maior eficiência mecânica gerando um custo metabólico menor com o mesmo consumo de O2.
            Apesar de todas essas melhoras promissoras ainda necessita-se de maiores informações a respeito do uso de tais equipamentos, a principal crítica do artigo é o fato do mesmo não ser cego, podendo, a melhora ser atribuída ao efeito placebo. Outro fato importante a ser investigado é o uso de tais equipamentos durante provas de calor intenso.
            Fica a pergunta aberta: meias compressivas, moda ou equipamento para melhora de performance?

Effect of compression stockings on running performance in men runners
Kemmler W et al
Journal of Strength and Conditioning Research 2009


quarta-feira, novembro 23, 2011

Retorno ao esporte após lesão do LCA

O assunto da semana diz respeito a um tema muito frequente na medicina do esporte: o retorno após reconstrução do LCA. Será que os critérios utilizados são adequados para que o atleta retorne ao seu esporte com segurança? Um simples teste isocinético com resultados dentro dos padrões da normalidade, associado à estabilidade articular, é o suficiente para afirmarmos que o atleta retorna ao esporte sem um risco aumentado de novas lesões?

Seria muito bom se as coisas fossem tão simples, tudo preto no branco. Infelizmente não são. Cada vez mais percebemos que ainda há muito o que aprender na campo da reabilitação. A experiência clínica e estudos científicos nos mostram que, mesmo quando um atleta apresenta os critérios clássicos para o retorno ao esporte após reconstrução do LCA, o risco de novas lesões é muito alto.


Mas o que, então, devemos fazer para minimizar os riscos?

A verdade é que estamos longe de conhecer tudo que funciona (e o que não funciona) para a prevenção de novas lesões. A notícia boa é que a ciência está mostrando novidades que merecem ser testadas, em especial as relacionadas com a biomecânica dos atletas.

Estudos contemporâneos têm demonstrado que alterações proximais (tronco, pelve e quadril) podem estar intimamente relacionadas com lesões do joelho. Recentemente foi evidenciado que, no momento que atletas com reconstrução do LCA são liberados para retorno ao esporte, existem alterações biomecânicas do quadril contralateral devido ao desequilíbrio de carga ( na tentativa instintiva de “poupar” o joelho operado). Estas alterações levam ao desalinhamento do membro e sobrecarga de diversas estruturas do joelho, entre elas o LCA. Este é um potencial motivo para a alta incidência de rupturas contralaterais após o retorno ao esporte.

Desta forma, a rotação interna e adução dinâmica do quadril durante a fase de apoio, especialmente em saltos e mudanças de direção, deve ser considerada com mais atenção antes do retorno ao esporte após lesões do LCA. Isto porque estas duas variáveis, associadas ao desequilíbrio de carga entre os membros, assim como as alterações de equilíbrio podem ser importantes preditores para uma nova lesão ligamentar.


Rotação Interna e Valgo Dinâmico do quadril devem ser corrigidos.


É evidente que há muito a ser descoberto nessa área, por outro lado, vivemos um momento em que novos paradigmas começam a ser firmados. Não podemos ignorar novos modelos que começam a surgir, mas sim, temos que considerá-los de forma crítica pois possivelmente se firmarão como modus operandi num futuro próximo.

quinta-feira, novembro 17, 2011

Leite com Chocolate na Recuperação de Atletas


            Boa noite leitores do blog, essa semana falaremos sobre o papel da alimentação na recuperação de atletas. O artigo escolhido é do Journal of Strength and Conditioning Research deste ano. O objetivo do estudo foi comparar a recuperação com achocolatado desnatado e bebida esportiva.
            Foram avaliados meninos e meninas que jogam futebol, o teste utilizado foi o de 20 metros até a exaustão, é colocado temporizador sonoro e quando o atleta não consegue mais manter o ritmo, o teste é interrompido. De um total de 26 atletas completaram o estudo 13 voluntários.
            Entre as meninas (8) não foram observadas alterações, no entanto, nos meninos (5), ocorreu melhora significativa no tempo até exaustão.
            Entre as razões que poderiam explicar tal ocorrido encontra-se o fato do leite apresentar carboidratos em quantidade semelhante ao das bebidas esportivas isotônicas, apresentarem boa quantidade de BCAA, whey protein e caseína, mantendo boas concentrações plasmáticas de aminoácidos. Além disso, o leite apresenta sódio e potássio e ajudam na reidratação.
            Concluindo, ainda são necessárias mais pesquisas em relação a ingesta de leite com achocolatado na recuperação de atletas, no entanto, o leite pode ser utilizado imediatamente apos o exercício e servir como importante fonte de carboidratos e proteínas, além de auxiliar na reposição de eletrólitos. 

The effects of low fat chocolate Milk on postexercise recovery in collegiate athletes
Spaccarotella KJ and Andzel WD
Journal of Strength and Conditioning Research

quinta-feira, novembro 10, 2011

Atualizações no Exame Pré Participação


            Boa noite aos leitores do blog, hoje irei comentar alguns pontos novos nas avaliações pré participação em atletas, trata-se de uma revisão de 2011 da revista Clinics in Sports Medicine. O artigo fala sobre os exames realizados pelos norte-americanos, baseado nas recomendações da American Heart Association e American College of Sports Medicine de 1996 e atualizado em 2007 sobre screening cardiovascular.
            O primeiro ponto em relação ao exame é a necessidade de padronizar o exame, questionários aplicados no colegial e faculdades apresentam respostas erradas comprometendo a avaliação. Além disso, os profissionais responsáveis não apresentam o mesmo treinamento dos profissionais que realizam o mesmo exame na Itália.
            Em relação a atualizações do exame pré participação 4 pontos principais foram relatados: 1. Concussão, 2. Atleta Mulher, 3. Traço Falciforme e 4. Atletas com necessidades especiais(atletas paraolímpicos e com deficiência intellectual).
            Na concussão, tem sido incluídos testes neuropsicológicos e realizados protocolos de retorno ao esporte. Investigação sobre distúrbios alimentares e disfunção menstrual devem ser parte integrante da avaliação da mulher atleta. Apesar de ainda não ser uma recomendação universal, a National Collegiate Athletic Association (NCAA), tem incluído o screening em atletas que não tenham sido previamente investigados. Finalmente, os atletas com necessidades especiais foram destacados para terem uma avaliação cada vez mais individualizada, levando-se em conta qual é a sua limitação e qual é o esporte praticado.
            Outra sugestão seria a realização de um questionário virtual, no qual, o atleta poderia respondê-lo em sua própria casa, padronizando o teste por todo o país, além da comodidade de realizá-la.

The preparticipation physical examination: an update
Seto CK.
Clin Sports Med. 2011 Jul;30(3):491-501

quinta-feira, novembro 03, 2011

Lesões no Rugby Feminino (Copa do Mundo de Rugby 2010 – IRB)


            Bom dia leitores do blog, o tema dessa semana aborda um esporte que esteve em pauta neste mês de outubro, com a realização da Copa do Mundo Masculina de Rugby na Nova Zelândia e da participação brasileira no Panamericano de Guadalajara.
            Em artigo publicado no British Journal of Sports Medicine em setembro de 2011 foram relatados dados de lesões que ocorreram durante a Copa do Mundo Feminina de Rugby de 2010 da International Rugby Board (IRB).
            Os problemas mais comuns encontrados foram: lesões dos ligamentos dos joelhos (15%), lesões dos ligamentos do tornozelo (13%) e concussão (10%). Os locais mais acometidos foram: joelho (28%), cabeça/face (23%) e tornozelo (13%). Os dados obtidos durante a mesma competição em 2006, são similares.
            A jogada onde ocorrem a maioria das lesões é o tackle, sendo que o jogador que o recebe apresenta maior chance de lesão em relação ao jogador que o realiza.
            Em resumo: 1. Apenas uma lesão ocorreu durante os treinos, 2. Lesões ligamentares de joelho são as mais comuns, 3. O tackle é a maior causa de lesões, 4. O risco de lesão é menor entre as mulheres em relação aos homens durante competições internacionais.

terça-feira, outubro 25, 2011

Boa noite amigos do Sports Medicine Brasil! Para o post desta semana convidamos Gustavo Nakaoka, um colega que vem deixando importantes contribuições nos comentários que faz no blog. Seguem as palavras de nosso amigo:



LCA: Operar ou não?


A cirurgia do ligamento cruzado anterior (LCA) é, nos dias de hoje, uma das mais estudadas na ortopedia, mesmo assim ainda é muito difícil identificar quais indivíduos são candidatos (ou não) para a ligamentoplastia.

A lesão do LCA apresenta efeitos potencialmente deletérios no que diz respeito à função muscular, cinemática, estabilidade articular e propriocepção do joelho.

A abordagem terapêutica desta lesão pode ser feita de duas maneiras: conservadora e cirúrgica. Contudo, ainda não há consenso na literatura sobre qual tratamento possibilita um melhor resultado funcional.

Antigamente os trabalhos apontavam resultados ruins no tratamento conservador, reforçando a preferência pela intervenção cirúrgica. Com isso, ainda hoje a grande maioria dos médicos indica a reconstrução do LCA principalmente para pacientes que desejam praticar atividades físicas em alto nível, isso porque a taxa de indivíduos operados que retornam ao esporte é alta e também crê-se que esportes com gestos como saltos, movimentos de pivô e mudanças súbitas de direção inevitavelmente resultariam em instabilidade articular em um joelho deficiente do LCA.

Sendo assim, o objetivo primário da ligamentoplastia é promover estabilidade articular e retorno seguro do paciente ao nível de atividade desejada, contudo, poucos estudos mostram que a reconstrução do LCA efetivamente reestabelece a estabilidade dinâmica do joelho, ou mesmo permite retorno total às atividades praticadas antes da ruptura, na maioria dos indivíduos.

Pessoas com deficiência nesse ligamento que apresentam instabilidade articular dinâmica e incapacidade de retornar às suas atividades prévias à lesão são denominadas “noncopers”. Porém, alguns aparentemente são capazes de estabilizar seus joelhos dinamicamente mesmo em esportes que demandem gestos como o pivoteamento, tais indivíduos são denominados “copers”, uma vez que conseguem retornar às suas atividades pré-lesão sem episódios de falseio e, sendo assim, não necessitariam passar pelo procedimento cirúrgico. Ainda há uma terceira categoria, na qual encontra-se a maioria das pessoas com deficiência do LCA, a dos “adapters”. Nela se encaixam indivíduos com lassidão acima de 3mm (se comparada ao membro contralateral) durante o exame inicial e são aptos a evitar episódios de instabilidade ao mudarem hábitos e níveis de atividade.

Pesquisas mostram que, com o devido trabalho de fortalecimento e treino sensório-motor, pessoas com ruptura do LCA apresentam bom prognóstico a curto e médio prazo, entretanto tais indivíduos tendem a diminuir seus níveis de atividade após a lesão. Também existem trabalhos apontando que de 19 – 82% das pessoas que passaram pelo tratamento conservador da lesão do LCA conseguem retornar à prática esportiva no nível pré-lesão e que de 8 a 82% dos que realizam a ligamentoplastia e tratamento pós-operatório retornam no mesmo nível.

Atualmente, diversos grupos de pesquisa fazem acompanhamentos constantes em indivíduos elegíveis ou não para o tratamento conservador que, após separados nos grupos “copers”, “noncopers” e “potencial copers” (indivíduos que podem, com o devido treinamento retornar às atividades sem necessidade de cirurgia), são submetidos ao tratamento adequado. Tais grupos, após follow ups que chegam a 15 anos, sugerem que um nível satisfatório de atividade pode ser alcançado com alterações das atividades de vida diária e reabilitação neuromuscular adequada, diminuindo assim a necessidade da ligamentoplastia; além de um grupo mostrar uma tendência de “potencial copers”, após tratamento conservador, obterem sucesso no retorno às atividades esportivas sem apresentar episódios de instabilidade ou diminuição funcional em 72% dos casos.

Sendo assim, ainda não existe consenso em como identificar indivíduos elegíveis ou não para o tratamento conservador ou ligamentoplastia o que diminuiria consideravelmente as consequências deletérias de um tratamento mal indicado.


Gustavo B. Nakaoka

Fisioterapeuta

Especialista em Fisioterapia Musculoesquelética pela ISCM-SP

Especializando em Fisiologia do Exercício e Biomecânica do Aparelho Locomotor pelo IOT - HC FMUSP


Referências:


  1. Kaplan Y. Identifying individuals with an anterior cruciate ligament-deficient knee as copers and noncopers: a narrative literature review. J Orthop Sports Phys Ther. 2011 Oct;41(10):758-66.


  1. Snyder-Mackler L, Risberg MA. Who needs ACL surgery? An open question. J Orthop Sports Phys Ther. 2011 Oct;41(10):707-7.

quinta-feira, outubro 20, 2011

Abuso, Perseguição e Bullying no Esporte


            Boa noite leitores do blog Sports Medicine Brasil, o tema abordado essa semana é sobre abuso, perseguição e bullying no esporte. Em setembro de 2011, a Canadian Academy of Sports and Exercise Medicine emitiu seu posicionamento no Clinics Journal of Sports Medicine.
            Para começar são definidos cada uma dessas modalidades de agressão:
1.                    Abuso é definido como padrão de mau trato físico, sexual, emocional ou negligência por uma pessoa na posição de cuidadora resultando em atual ou potencial dano para o atleta.
2.                    Perseguição é definida como ato único ou múltiplo de comportamento indesejado ou coercivo por alguém em posição de autoridade sobre o atleta que pode ser potencialmente lesivo. A perseguição é caracterizada por abuso de poder .
3.                    Bullying é definido como padrão de comportamento entre os atletas que incluem agressões físicas, verbais ou psicológicas potencialmente lesivos. O bullying é baseado no desequilíbrio de poder entre atletas e incluem ausência de provocação.
Muitas dessas práticas podem ser consideradas comuns no meio esportivo e até mesmo necessárias para obtenção do sucesso. No entanto, podem ter consequências terríveis para as pessoas que sofreram este tipo de injúria.
            Alguns sinais como perda de performance, desenvolvimento de patologias psicológicas (ansiedade, depressão), queixas de lesão, obsessão por treino, distúrbios de alimentação, baixa alto estima, abuso de álcool e/ou drogas.
            Cabe aos profissionais de saúde envolvidos em equipes identificar padrões sugestivos de abuso, perseguição e bullying e ajudar a evitar esses padrões de danos aos atletas, sejam eles crianças ou adultos.

quarta-feira, outubro 12, 2011

Relação da musculatura lombopélvica com lesões musculares de membros inferiores

Olá leitores do Sports Medicine Brasil! Dando seqüência ao último post, essa semana discutiremos um assunto muito importante na medicina do esporte: musculatura lombopélvica e lesões no esporte.

No último volume do JOSPT foi publicado um estudo que avaliou a relação da área de secção transversa (CSA) de músculos lombopélvicos com o risco de lesões musculares nas coxas de jogadores de futebol australiano. A CSA dos músculos multifidos (MF), quadrado lombar (QL) e psoas maior (PM) foi aferida através de ressonância magnética (RM) e as lesões musculares foram registradas pelos médicos dos clubes durante a pré-temporada.

Os atletas que apresentavam menor CSA do MF apresentaram maior risco de lesão muscular de coxa, não observando-se associação entre a CSA do QL e PM com o risco de lesões durante a pré-temporada.

O músculo MF é um dos estabilizadores locais mais bem estudados (estabiliza segmentos lombopélvicos para que os movimentos do esporte fluam de forma eficiente e segura). A maior parte das publicações mostra que a manutenção de uma pequena contração deste músculo é suficiente para gerar estabilidade lombopélvica. Para que haja segurança na maioria dos esportes, portanto, o MF deve apresentar características de endurance.

Esses resultados nos mostram que, possivelmente, em esportes de colisão e com alta demanda muscular, uma maior geração de força pelo MF poderia ser necessária para evitar lesões. Portanto, poderíamos avaliar a área de secção transversa do MF na pré-temporada de determinados esportes, com o intuito de identificar atletas com necessidade de realizar trabalhos específicos de prevenção. Outra estratégia seria incluir treinamento específico para todos atletas, evitando assim gastos com exames complementares. A utilização de qualquer uma destas ações pode favorecer a prevenção de lesões musculares em esportes que exijam alta demanda.

J Orthop Sports Phys Ther 2011;41(10):767-775, Epub 4 September 2011. doi:10.2519/jospt.2011.3755

Pontos Importantes

Boa função dos estabilizadores lombopélvicos é importante na prevenção de lesões no esporte.

Menor CSA dos multifidos pode ser um fator de risco para lesões.

Possivelmente, além do endurance do MF, também sua força pode ser importante para prevenção de lesões em determinados esportes.

quarta-feira, outubro 05, 2011

Estabilidade do Core e Performance


            Boa noite a todos, o assunto desta semana é sobre a estabilidade de Core e performance. O Core é composto por músculos do tronco e da pelve formando um quadrado capaz de estabilizar a coluna e a pelve. A estabilidade do Core, pode ser atribuída a três fatores principais: estabilizadores passivos (coluna), estabilizadores ativos (músculos) e controle neuromuscular.
            Os treinos de estabilidade do Core foram muito utilizados para prevenção de lesões, no entanto, ainda existem controvérsias em relação ao potencial aumento de performance.
            O estudo realizado utilizou o agachamento com os dois pés, na qual, o movimento era analisado e foram dados alguns pontos em relação a estabilidade. Para testar a performance foram realizados 5 testes diferentes, afim de conferir, agilidade, força, potência, velocidade.
            Nesse estudo a única relação entre a estabilidade do Core e melhora de performance foi no arremesso da “medicine ball”, não sendo observados melhora de performance em relação a agilidade, sprint ou plataforma de salto. Acredito que o trabalho de estabilidade de Core é de fundamental importância, no entanto, ainda precisamos ter cautela para afirmar todos os benefícios dessa prática.

Artigo extraído do The International Journal of Sports Physical Therapy
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed?term=a%20pilot%20study%20of%20core%20stability%20and%20athletic%20performance

quarta-feira, setembro 28, 2011

Berço de Campeões ou Campeões desde o Berço?


            Boa noite a todos, o tema desta semana baseia-se no artigo do British Journal of Sports Medicine escrito por Andres E Carillo e colaboradores em 2011. Nele os autores abordam questões como genética e evolução das espécies para explicar o domínio Africano nas provas de maratona.
            Desde 1960, quando iniciaram suas participações em maratonas internacionais, os atletas do leste da África vêm liderando o pelotão de frente nas corridas de longa distância, e hoje detêm os 10 melhores tempos.
            Obviamente o treino em grandes altitudes, maiores níveis de atividade física, resistência a fadiga, economia de corrida e genética são alguns dos fatores responsáveis por tal domínio, entretanto, ainda existem mistérios por trás do sucesso desses corredores. A conexão entre fatores de desenvolvimento nos primeiros anos de vida e alta performance ainda não recebem muita atenção.
            Em humanos, a atividade física nos primeiros anos de vida aumenta a massa do ventrículo esquerdo, proteínas miofibrilares, coordenação motora e reduz o nível de citocinas inflamatórias na idade adulta. Além disso, velocidade de processamento também está ligada a maior atividade física através da possível estimulação de fatores tróficos e desenvolvimento neuronal ou aumento da circulação cerebral pela maior vascularização.
            Aumentam as evidências de que a exposição precoce a grandes altitudes e seus conseqüentes ajustes metabólicos durante os períodos iniciais do desenvolvimento podem influenciar numa melhor performance física posteriormente. Como indicador disto, os 13 melhores maratonistas do leste africano nasceram em lugares com altitude superior a 1500 m. Além do que, os fatores genéticos transmitidos através das gerações podem levar a uma melhor adaptação desses indivíduos até mesmo no pré-natal.

quinta-feira, setembro 22, 2011

Avaliação da Síndrome Compartimental

Esta semana nosso post em medicina do esporte trata de um assunto pouco elucidado, a investigação da síndrome compartimental crônica relacionada ao exercício (CECS). O British Journal of Sports Medicine do mês de setembro publicou um artigo sobre avaliação minimamente invasiva da CECS. Neste artigo os autores australianos Hislop e Batt expõe o problema de não haver um protocolo universalmente aceito para avaliação da CECS, e de não haver um consenso de como devemos realizar esta avaliação.

No artigo os autores sugerem que devemos evitar inserções desnecessárias de agulhas. Apesar de, em mãos experientes, o índice de complicações ser baixo, o exame é invasivo e não está livre destas. Algumas são importantes, como infecções, lesões neurovasculares e risco de sindrome compartimental aguda necessitando de fasciotomia de urgência. Portanto, na opinião dos autores, qualquer protocolo que limite a inserção de agulhas deve ser promovido.

Sobre a avaliação em casos com sintomas bilaterais, que correspondem a 75 a 90% dos casos, o artigo advoga pelo teste apenas na perna mais sintomática. Assim, se o teste for positivo e o paciente apresentar clínica compatível no membro contralateral, considera-se o caso como bilateral. Os autores também são contra a avaliação da pressão em diversos compartimentos pois os pacientes geralmente apresentam clínica em apenas um, ou no máximo dois, compartimentos. Da mesma forma o artigo recomenda que não utilizemos medições pré-exercício pois sabe-se que a pressão compartimental de repouso é entre 0 e 8 mmHg, e para a aferição em repouso são necessárias inserções extras.

Na falta de um protocolo consagrado, o uso de testes menos invasivos é algo que deve ser considerado. Por outro lado existem autores que recomendam protocolos mais invasivos, inclusive um destes protocolos foi publicado no mesmo volume do Britsh Journal of Sports Medicine.

quarta-feira, setembro 14, 2011

Workshop de Emergências no Futebol


Boa noite aos nossos leitores do blog, essa semana tivemos um curso de Emergências no Futebol da FIFA realizado nos dias 13 e 14 de setembro, pelo Dr. Efraim Kramer responsável pela organização da parte médica da Copa do Mundo de 2010 na África do Sul.
O curso explorou desde assuntos relativos a organização, conhecimento adequado do local de trabalho, que podem ser desde as instalações de treino até os grandes estádios da copa, evacuação para hospitais, tipos mais comuns de emergências no futebol, protocolos de atendimento, entre outros.
A Copa do Mundo é o maior evento esportivo do planeta capaz de mudar todo o pais por pelo menos 6 semanas. Para garantir que jogadores, organizadores, autoridades e torcedores do mundo possam dispor de atendimento médico de qualidade é necessário boas instalações dentro dos estádios e em seu trajeto, além de equipe médica bem treinada e pronta para realizar qualquer procedimento.
Dentre os problemas mais comuns que ocorrem dentro de um estádio de futebol estão: epilepsia, hipoglicemia, mal súbito cardíaco, lesões cervicais e asma. Os protocolos de atendimento utilizados na África do Sul foram apresentados, além, das listas de equipamentos e medicamentos necessários para a competição.
Ocorreu também, treinamento prático em relação a imobilização de pacientes, atendimento de espectadores e jogadores que sofreram colapso em diversas áreas  do estádio, dos gramados até as arquibancadas. Mostrando as particularidades do atendimento no futebol.

quarta-feira, setembro 07, 2011

Prevalência de Overtraining em Jovens Atletas Ingleses


            Boa noite a todos, nosso artigo de hoje fala sobre overtraining em atletas jovens ingleses. Este artigo foi publicado em 2011 no jornal Medicine and Science in Sports and Exercise.
            Inicialmente, definiu-se overtraining como diminuição ou decréscimo de performance, em atletas hígidos, que pode persistir por semanas até meses. Podendo estar associado com sintomas inespecíficos como distúrbios de humor, aumento da percepção de esforço durante treino ou competição, aumento na incidência de doenças de via aérea superior, perda de apetite, distúrbios do sono e sentimentos de depressão.
            Até hoje a carga de treino e o repouso inadequado são os principais fatores causadores de tal síndrome, no entanto, questiona-se o papel dos estressores psicossociais no quadro. No estudo, participaram 376 atletas de 19 modalidades diferentes que praticavam seus esportes de 4 a 8 anos, com níveis de treinamento diferentes, apresentavam média de idade de 15 anos. 
            Cerca de 29% dos atletas referiram apresentar o quadro de overtraining em algum momento de suas vidas, as mulheres apresentaram um incidência um pouco maior em relação aos homens. Esportes individuais também apresentavam maior incidência em relação aos esportes coletivos e o nível de treinamento se competiam em nível regional ou estadual em relação aos atletas que competiam em âmbito nacional ou internacional. Além disso, o fato de dispor de menos de 5 horas semanais para atividades de lazer fora do esporte demonstrou ser um fator de risco para o desenvolvimento do quadro.
            Os sintomas apresentados pelos jovens atletas foram semelhantes aos desenvolvidos em adultos, excetuando a maior incidência entre as jovens em relação aos garotos.
            Ainda há muito a se conhecer sobre o overtraining, desde as causas dessa síndrome até ferramentas diagnósticas e de controle. Mas, deve-se lembrar que existem cada vez mais evidências que os fatores psicológicos estejam mais envolvidos nesse processo.

Prevalence of Nonfunctional Overreaching/Overtraining in Young English Athletes.
Nuno F. Matos, Richard J. Winsley and Craig A. Williams
Medicine and Science in Sports and Exercise 2011

  

quarta-feira, agosto 31, 2011

Clinical Sports Medicine

Em conversa recente que tive com alguns estudantes de medicina interessados na medicina do esporte, percebi que pode ser muito difícil que eles tenham acesso a importantes fontes bibliográficas. Isso acontece por dois motivos principais: primeiro por não serem apresentados a estas fontes e, segundo, pelo fato dos principais livros de medicina do esporte dificilmente serem encontrados nas livrarias de nosso país. Ou seja, a maior parte dos estudantes desconhece a existência destes livros, e os poucos que conhecem precisam importá-los sem ao menos terem a possibilidade de folheá-los antes.

Pensando nisso resolvi escrever um pouco sobre um livro australiano muito bom, que contempla os principais assuntos da especialidade: Clinical Sports Medicine, de Peter Brukner e Karim Khan.

Este livro é muito interessante para médicos do esporte por inúmeros motivos:


  • É bastante abrangente.

  • Apresenta o que há de mais atual na medicina do esporte baseada em evidências.

  • Discute detalhadamente o tratamento clínico das afecções relacionadas à medicina do esporte.

  • A abordagem das afecções musculoesqueléticas é feita pelos sintomas e não pela lesão, o que o torna mais próximo da realidade prática (vejam o índice abaixo).

  • Visual agradável e convidativo, tornando a leitura fácil e prazerosa.


É um bom livro para aprender medicina do esporte, lendo-o do início ao fim. Também é muito prático (exceto pelo peso) para usar como fonte de consulta de dúvidas específicas. Na minha opinião é um livro que todo médico do esporte deve conhecer.



Índice:



Sports injuries

Pain: where is it coming from?

Beware: conditions masquerading as sports injuries

Biomechanics of common sporting injuries

Principles of injury prevention

Recovery

Principles of diagnosis: clinical assessment

Principles of diagnosis: investigations including imaging

Treatments used for musculoskeletal conditions: more choices and more evidence

Core stability

Principles of rehabilitation

Sports concussion

Headache

Facial injuries

Neck pain

Shoulder pain

Elbow and arm pain

Wrist, hand and finger injuries

Thoracic and chest pain

Low back pain

Buttock pain

Acute hip and groin pain

Longstanding groin pain

Anterior thigh pain

Posterior thigh pain

Acute knee injuries

Anterior knee pain

Lateral, medial and posterior knee pain

Shin pain

Calf pain

Pain in the achilles region

Acute ankle injuries

Ankle pain

Foot pain

The patient with longstanding symptoms

Maximizing sporting performance: nutrition

Maximizing sporting performance: to use or not to use supplements?

Maximizing sporting performance: psychology principles for clinicians

The younger athlete

Women and activity-related issues across the lifespan

The older person who exercises

The disabled athlete

Sport and exercise-associated emergencies: on-site management

Cardiovascular symptoms during exercise

Respiratory symptoms during exercise

Gastrointestinal symptoms during exercise

Diabetes mellitus

The athlete with epilepsy

Joint-related symptoms without acute injury

Common sports-related infections

The tired athlete

Exercise in the heat

Exercise at the extremes of cold and altitude

Exercise prescription for health

The preparticipation physical evaluation

Screening the elite athlete

Providing team care

Traveling with a team

Medical coverage of endurance events

Drugs and the athlete

Ethics and sports medicine


quarta-feira, agosto 24, 2011

Comparação Entre Dieta e Exercício no Perfil Lipidico em Adultos Obesos

            Boa noite a todos que acompanham o Blog, esta noite trouxe um artigo do Jornal Lipids in Health and Disease de 2011, onde, foram comparados dieta e exercício no perfil lipídico dos pacientes obesos.
            A dislipidemia, assim, como a relação entre HDL e LDL estão intimamente associadas com doenças cardiovasculares. Além disso, sobrepeso e obesidade aumentam a chance do paciente apresentar dislipidemia.
            No estudo foram utilizadas duas formas de dieta: restrição calórica (diminuição de 15-40% da necessidade calórica diária) e dia de jejum alternado (um dia com restrição de até 75% das necessidades calóricas diárias alternado com um dia em que podem comer a vontade). Também foi implementado um grupo que realizou exercício aerobico 3 vezes por semana (bicicleta ergométrica ou elíptico) progressivo, até chegaram a 75% da FC max por 60 minutos na décima semana. A duração do estudo foi de 12 semanas.
             Foram divididos em 4 grupos: 1. Restrição calórica, 2. Dia de jejum alternado, 3. Exercício aerobico e 4. Grupo controle. Foram pareados pela idade média, sexo, IMC e concentrações de LDL e HDL. Após as 12 semanas os indivíduos dos 3 primeiros grupos perderam cerca de 5% do peso corporal, enquanto o grupo controle permaneceu com o peso estável.
            Em relação aos resultados, os grupos que realizaram a dieta com emagrecimento apresentaram redução das concentricões de LDL, enquanto o grupo exercício apresentou aumento das concentrações de HDL.
            No entanto, já foram realizados alguns estudos que comprovaram melhora nas concentrações de HDL com dieta quando ocorre maior porcentagem de emagrecimento. Quanto ao exercício, as concentrações de LDL costumam diminuir quando ocorre atividade física aerobica acima de 75% da FC max.

Varady et al. Lipids in Health and Disease 2011, 10:119

quarta-feira, agosto 17, 2011

Chuteiras, Performance e Lesões.


            Boa noite a todos os leitores do blog, essa semana iremos falar de futebol, para ser mais exato falaremos um pouco sobre chuteiras e sua relação com a performance e com as lesões. O nome do artigo em ingles é “The Influence of Soccer Shoe Design on Player Performance and Injuries”, uma revisão do “Research in Sports Medicine”.
            O artigo relata desde os primordios do futebol, onde eram utilizadas botas de operario que pesavam cerca de 500 g, chegando até 1 kg quando molhadas. Chegando até as chuteiras atuais modernas, apresentam grande conforto, são leves e aumentam a tração. Além disso, ocorreu grande evolução no jogo, tornando-se extremamente rápido nos dias atuais.
            Uma pesquisa realizada entre jogadores de futebol algumas características foram consideradas as mais importantes: conforto, estabilidade peso e propriedade de tração. O conforto permite o jogador executar seus movimentos de maneira livre demonstrando o melhor de sua habilidade, o peso da chuteira e suas propriedades de tração alteram sua rapidez na mudança de direção, podendo aumentar sua performance.
            Em relação a aumentar a velocidade da bola após o chute, o peso e a rigidez do solado não interferiram nesse quesito. No entanto, o tecido que recobre o dorso do pé, assim como sua costura interferem tanto na velocidade da bola quanto em sua precisão. Um material pouco aderente tende a prejudicar a força e a precisão do chute.
            Existe pouca evidência em relação a lesões traumaticas e de overuse com a diferença de tração em gramas artificiais e grama natural. É sempre importante lembrar que a lesão traumatica mais comum no futebol é o entorse de tornozelo, enquanto as lesões mais graves mais comuns, são as lesões do joelho.

quarta-feira, agosto 10, 2011

Imersão em Água Gelada e outras Formas de Recuperação no Esporte

O uso de técnicas para recuperação após treinos e competições é um assunto muito controverso em medicina do esporte. Apesar de não haver forte evidência científica justificando seu emprego, massagens, recuperação ativa, imersões e outras técnicas são muito difundidas, pois atletas e treinadores relatam experiências positivas com seu uso. Dentre as modalidades mais aceitas pelo meio esportivo podemos destacar a imersão em água gelada. Em alguns esportes, como Rugby, este tipo de imersão faz parte da rotina dos atletas em competição, especialmente quando o intervalo até o próximo embate é curto.

Em artigo publicado este ano no European Journal of Applied Physiology, Pournot e colegas estudaram os efeitos de algumas técnicas de recuperação em atletas de elite do futebol, rugby e volei após 20 min de exercício intermitente exaustivo. No estudo, foram avaliadas a imersão em água fria (10 graus), termoneutra (36 graus) e contraste (10-42 grau), além da recuperação passiva. Os resultados sugerem que o contraste e, especialmente, a imersão em agua fria podem trazer alguns benefícios na recuperação dos atletas.

A imersão em agua a 10 graus, após sessão de exercício intermitente exaustivo, demonstrou melhora da força de contração muscular após uma hora e após 24 horas. Além disso, os atletas que realizaram a imersão em agua fria obtiveram melhor desempenho na impulsão vertical, aferida uma hora após a sessão de exercício exaustivo. Em relação aos marcadores de lesão muscular, a CPK estava aumentada após 24 hs da sessão de exercício em todos os grupos, exceto no grupo que realizou imersão em água fria, sugerindo uma proteção à lesão muscular com esta modalidade.

Os resultados do presente estudo sugerem que o emprego de técnicas de imersão em agua fria podem ser benéficas para a recuperação em esportes coletivos. Este estudo mostra também o quanto é importante buscarmos evidências científicas para técnicas controversas e empiricamente consagradas na medicina do esporte.


Pontos de destaque:

1- Várias técnicas de recuperação são utilizadas nos esportes.

2- Existem poucos estudos sobre a efetividade destas técnicas.

3- Estudos recentes sugerem que a imersão em agua fria pode ajudar a recuperação de atletas.

quarta-feira, agosto 03, 2011

Bebida Energética e Exercício


            Boa Noite a todos, o assunto de hoje é sobre bebidas energéticas e o seu possível uso em atividades físicas. O primeira constatação do artigo é a diversidade do conteúdo de tais bebidas, os ingredientes variam muito, mas, o que chama mais atenção é a quantidade de cafeína que pode variar de 50 mg a 505 mg por lata.
            Dentre os ingredientes comuns destacam-se: cafeína, taurina, glucoronolactona, guaraná e vitamina B.  Destes, somente a cafeína apresentou efeito ergogênico, principalmente, em atletas de endurance. Substâncias como taurina, glucoronolactona e Ginseng ainda não demonstraram melhora de performance esportiva, sendo necessárias investigações adicionais. Outra substância encontrada em baixas doses é o Guaraná, no entanto, a sua semente pode conter grandes quantidades de cafeína, além de teobromina e teofilina.
            O abuso de cafeína apresenta efeitos colaterais comprovados que podem se iniciar após a ingesta de 200 mg da substância, incluem insônia, nervosismo, cefaléia, taquicardia, arritmia e náusea. Além disso, existe a possibilidade de aumentar a diurese.
            O uso dessas bebidas em associação com álcool também tem sido utilizada com frequência por adultos jovens, podendo traduzir-se em uma combinação perigosa, pois, a bebida energética pode diminuir os danos da função cognitive e diminuindo os sintomas depressivos do álcool, aumentando a possibilidade de acidentes e dependência alcoólica.
            Outro ponto importante é o excesso de carboidrato encontrado nas bebidas energéticas, em geral, são encontrados 54 g de CHO em uma lata de 500 mL, podendo desenvolver desconforto gástrico durante a atividade física.
            De maneira geral, deve-se restringir o uso de bebidas energéticas para apenas uma lata, sendo importante orientar evitar alimentos ricos em cafeína. Além disso, os efeitos estimulantes podem levar a desidratação, sendo necessária uma boa reidratação. Seu uso em atividades de resistência como maratonas e ciclismo devem ser bem avaliadas. O uso por cardiopatas deve ser evitado ou pelo menos ingerido com cautela.
           
Artigo de novembro de 2010 da Mayo Clinic Proceedings – Energy Beverages: Content and Safety