quarta-feira, abril 27, 2011

Esporte é perigoso? É realmente necessária realizar avaliação pré-participação em atletas competitivos e recreativos?

            Bom dia fãs do esporte e amigos do Sports Medicine Brasil, nesta quarta feira iremos abordar um assunto que é um dos grandes paradigmas da medicina esportiva: avaliação pré-participação. Buscando no European Heart Journal, uma revisão de janeiro de 2011 me chamou atenção,  escrita por grandes estudiosos do assunto como o Dr. Domenico Corrado e o  Dr. Antonio Pelliccia, entre outros grandes nomes.
            Inicialmente, são definidos dois grupos de atletas: 1. Atletas Competitivos (geralmente ≤ 35 anos) que participam de times organizados ou esporte individual que requer treinamento sistemático e competição regular alcançando performance atlética excelente e 2. Atletas Recreativos (geralmente ≥ 35 anos) participantes em uma grande variedade de esportes recreacionais com intensidade variando entre moderada a vigorosa, sem treino sistemático ou busca de alta performance.
            No primeiro grupo de atletas competitivos existe grande discussão em relação ao protocolo de avaliação pré-participação americano e o europeu (italiano). O principal ponto de discussão ocorre na utilização do ECG como ferramenta para triagem de doenças cardíacas (cardiomiopatia hipertrófica, displasia arritmogênica de ventrículo direito, síndrome do QT longo, padrão de Wolff-Parkinson-White). O estudo italiano foi o único que comprovadamente demonstrou redução na incidência de morte súbita, na qual, foi utilizado o ECG. No entanto, o uso de tal recurso apresenta um aumento no custo de avaliação do atleta, pois, 9% tem achados positivos, 2% apresentaram distúrbios cardiovasculares e 0,2% foram desqualificados por apresentarem potenciais doenças cardíacas letais.
            O segundo grupo de atletas recreacionais enfrenta grande heterogeneidade, de maneira geral o ECG de repouso tem pouca valia em questão diagnóstica, sendo o teste de esforço uma ferramenta mais interessante. Em indivíduos assintomáticos as pessoas que mais se beneficiam em realizar o teste são aqueles que apresentam fatores de risco para doença aterosclerótica, como idosos do sexo masculino, dislipidemia, história familiar positiva para DAC, tabagismo, diabetes.  No entanto, a utilização tanto de ECG como de teste de esforço em indivíduos de meia idade ou idosos necessita de maiores investigações.
            A grande dúvida em relação a avaliação pré-participação em atletas de alta performance é que o ECG pode levar a investigações cardíacas desnecessárias , aumentando o custo para a saúde. Alem disso, um estudo recentemente publicado no Journal of  the American College of Cardiology em março de 2011(Steinvil et al., 2011) sobre avaliação com ECG e não demonstrou diminuição no risco de morte súbita.
            Em relação a avaliação pré-participação em praticantes de atividade física, existe grande heterogeneidade entre os participantes, sendo necessário reconhecer fatores de risco cardiovascular, condicionamento físico. Apesar, das recomendações da European Society of Cardiology e da American College of Cardiology/American Heart Association de se utilizar teste ergométrico antes de se iniciar atividade física de alta intensidade, não existem evidências de que essas práticas realmente diminuem morbidade e mortalidade em indivíduos assintomáticos sem riscos carvdiovasculares. Todas as pessoas realmente necessitam uma bateria de exames antes de iniciar atividade física?

quarta-feira, abril 20, 2011

Hidratação durante o exercício. Influências comerciais têm impedido o avança científico?

Bebidas esportivas são amplamente utilizadas por atletas e esportistas. Estas bebidas costumam apresentar carboidratos e eletrólitos, além de sabor agradável. Atualmente seu uso é mundialmente difundido e representa um comércio multimilionário. Poderia, visando o lucro, a indústria de bebidas esportivas prejudicar a disseminação do conhecimento no meio científico?

Em 1985 Noakes e colegas reportaram o primeiro caso de hiponatremia associada ao exercício (EAH) : " A etiologia desta condição parece ser a hiperidratação voluntária com soluções hipotônicas...". Ainda em 1985, este grupo sugeriu que atletas deveriam ser aconselhados quanto aos possíveis perigos da hiperidratação. Em 1991, um estudo em oito ultramaratonistas com EAH (Irving, Noakes e colegas) mostrou que todos apresentavam sobrecarga de fluido entre 1,22 a 5,92 L, provando a relação entre EAH e hiperidratação.

Apesar destes achados, o posicionamento oficial do ACSM de 1996 recomendava que atletas bebessem "o tanto que conseguissem" durante o exercício. Em seu posicionamento oficial de 2007, sobre hidratação e exercício físico, o ACSM apresenta uma sessão sobre EAH mas, segundo Noakes (BJSM, nov 2010), ignora o fato de que o ganho de peso por sobrecarga de fluidos é responsável por cerca de 95% da queda na concentração plasmática de sódio após as provas. Desta forma, mesmo a hiperidratação com bebidas esportivas - que contém sódio - pode levar a EAH.

O fato de que muitos autores apresentam relações com a indústria de bebidas esportivas deve nos levar ao questionamento da validade dos posicionamentos oficiais sobre hidratação e exercício físico.

terça-feira, abril 12, 2011

O MUNDO DO DOPING



Hoje comentaremos um artigo original do jornal “ Sports Medicine” escrito por Urban Wiesing da Universidade de Tuebingen, Alemanha.
”Should Performance-Enhancing Drugs in Sport be Legalized under Medical Supervision?”
Esta revisão discorre sobre a questão do doping. As “drogas” que melhoram o desempenho poderiam ser permitidas se fossem admistradas e/ou acompanhadas por um médico especializado, podendo avaliar os resultados esperados a cada caso. Essa mudança na regulamentação teria um controle ainda mais rigoroso, devido aos riscos envolvidos. Por isso, o controle de dopagem não perderia sua função, mas transformaria-se num serviço que avaliaria esse risco. Sabemos que uma característica do esporte de alto rendimento é a diminuição da saúde geral ou aumento do risco. O que não seria tolerado, são casos onde há dano permanente ou até mesmo risco de morte, mesmo sabendo que nossa sociedade permite comportamentos e hábitos autodestrutivos.
Nesse mesmo artigo o presidente do Conselho de Bioética relata: “...até provem o contrário, essa máxima deve ser seguida prudentemente: nenhum agente biologico é poderoso o suficiente para desencadear grandes mudanças no corpo ou na mente e é, por si só inteiramente seguros ou sem efeitos colaterais e ou indesejados.
Outra questão: Será que o médico, neste caso, deveria se responsabilizar pelo risco?Já que ele está acompanhando o atleta e ele consentiu que iria iniciar determinada medicação e dar seguimento?
Mais importante ainda, a função do desporto como um modelo a seguir, seria definitivamente danificado. Do ponto de vista prático, o doping não deve ser considerado como uma vantagem de um atleta perante outro, e sim de uma desvantagem intrapessoal.
Abraço,

quarta-feira, abril 06, 2011

A cidade-sede e os Jogos Olímpicos

O editorial “Sports and Politics” do British Medical Journal de 2010 traz um tema importante para refletirmos. Qual o real papel de um grande evento esportivo para a cidade-sede?
Richard Budgett, remador campeão olímpico em 1984 e especialista em Medicina Esportiva, é o responsável pelo departamento médico dos Jogos Olímpicos de Londres. Richard não demonstra preocupação quando fala das instalações para atendimento do atleta com a presença de policlínica estruturada com médicos do esporte, aparelhagem para exames de imagem, farmácia, consultórios, área para reabilitação e ainda um setor de emergência. Além disso, demonstra muita segurança quando fala a respeito do controle antidoping “Vamos fazer mais testes do que alguém jamais fez...”. Entretanto, admite que a grande dificuldade a ser vencida será transformar o estilo de vida da população inglesa. Richard pretende conseguir mais de 2 milhões de pessoas ativas durante os Jogos Olímpicos.
Cálculos feitos pelo Comitê Olímpico da Inglaterra mostrou que os Jogos de 2012 custarão para cada cidadão inglês 150,00 libras. E o que receberão em troca? Para Richard Budgett, caso o incentivo dos Jogos na transformação do estilo de vida da população inglesa não ocorra, essa troca não valerá à pena.
Lembre-se: depois dos Jogos Olímpicos de Londres seremos nós o grande anfitrião! E o que queremos em troca?