quarta-feira, março 30, 2011

Capacidade de Exercício e Mortalidade em Homens Idosos

Saudações amigos do Sports Medicine Brasil, hoje iremos abordar mais um tema baseado em um artigo, desta vez, o jornal Circulation serviu como base para criação de nosso tópico.
A publicação ocorreu em agosto de 2010, e trouxe a tona a questão: existe fonte da juventude? Com certeza, a resposta é não, mas, hoje existe comprovação de que hábitos saudáveis de vida podem prolongar a vida e inclusive a melhora de sua qualidade. Baseado nesse fato, o Dr. Peter Kokkinos e colegas exploraram a capacidade de exercício e a relação com o risco de mortalidade em adultos idosos.
Estudos epidemiológicos já descrevem relação inversamente proporcional entre condicionamento físico e mortalidade tanto em indivíduos aparentemente saudáveis como naqueles com doença cardiovascular documentada. No entanto, essas evidências foram vistas em indivíduos de meia-idade.
Estima-se que os gastos com saúde devem aumentar drasticamente em um futuro próximo, tal fato se deve pelo envelhecimento da população americana. Pensando nisso o governo norte-americano tem encorajado um estilo de vida mais saudável, na qual, seria inserida uma rotina de exercícios físicos. Os benefícios seriam traduzidos em diminuição de problemas de saúde que reduzem a qualidade e o tempo de vida dos idosos.
O objetivo do estudo foi relacionar o condicionamento físico e o risco de mortalidade em indivíduos idosos. Dessa maneira, predizer se a performance em um teste de tolerância ao exercício poderia prever a mortalidade por todas as causas.
Foram recrutados 5314 homens com idade média de 70,5 anos que foram divididos em dois grupos distintos: 65 a 70 anos e >70 anos. Foram excluídos aqueles que tinham marca-passo, desenvolveram BRE durante o teste, tinham ICC classe II ou maior e aqueles que não conseguiram completar o teste devido a questões músculo-esqueléticas ou vasculopatia periférica, além de indivíduos positivos e confirmados com cintilografia miocárdica ou cateterismo.
Os indivíduos foram questionados quanto a doenças crônicas, uso de medicação, tabagismo, peso e altura foram gravados antes do teste de esforço e foi calculado o IMC.
A capacidade de exercício dos indivíduos do Veterans Affairs Medical Center, Washington, DC, foi realizado com protocolo de Bruce. Para os indivíduos do Veterans Affairs Palo Alto Health Care System, foi utilizado um protocolo individualizado de rampa.
Foram estabelecidas categorias de condicionamento baseado no nível de MET atingido. Foi utilizado a vigésimo percentil de METs (≤ 4 METs) também empregado em estudos anteriores e aqueles que alcançaram > 9 METs apresentaram o maior grau de condicionamento físico.
A mortalidade anual para os grupos 65 a 70 e > 70 anos foram: 40 por 1.000 e 49,6 por 1.000 pessoas-ano.
Os dados mostraram achados inversamente proporcionais entre capacidade de exercício e risco de mortalidade por todas as causas. Para cada 1 MET aumentado na capacidade de exercício, o risco de mortalidade era 12% menor para a Coorte inteira e para os dois grupos etários. E o risco de mortalidade declinou significantemente para as demais categorias de capacidade de exercício, variando de aproximadamente 40% para os que alcançaram 5,1 a 6 METs para 60% para os que alcançaram > 9 METs.
Comparado com indivíduos mal condicionados em ambos os testes o risco de mortalidade foi 61% menor naqueles que eram bem condicionados em ambos os testes. Indivíduos mal condicionados no primeiro teste que se tornaram bem condicionados apresentaram 34% de risco de mortalidade diminuído, enquanto, indivíduos bem condicionados que tornaram-se mal condicionados no segundo teste apresentaram diminuição de 41 % do risco de mortalidade, sugerindo efeitos duradouros da atividade física.
Apesar de bastante promissor o estudo apresentou algumas limitações como apenas apresentar mortalidade por todas as causas, sem discriminar a mortalidade por doenças cardiovasculares, não foram informados os padrões de atividade física dos indivíduos, assim como severidade das doenças crônicas e finalmente, informações relativos a padrão alimentar. Além disso, o fato da utilização de dois protocolos diferentes também é visto como limitação.
O estudo suporta uma relação inversamente proporcional entre capacidade de exercício físico e risco de mortalidade em indivíduos de 65 a 92 anos. Principalmente, quando o indivíduo apresentava capacidade > que 5 METs . Este nível de condicionamento pode ser alcançado em indivíduos idosos com a prática de 20 a 40 minutos de exercícios moderados diários, como caminhada. Essa associação pode ter impacto importante na saúde pública, principalmente, em virtude do envelhecimento da população.
Não podemos criar expectativas em busca de algo impalpável como a “fonte da juventude”, mas, através de políticas de incentivo a prática de atividade física, orientação da população pode-se melhorar a qualidade de vida de todos e ainda diminuir o risco de mortalidade por todas as causas. Além do benefício próprio do praticante de atividade física, deve ser levado em consideração os ganhos indiretos, como diminuição dos gastos com saúde, tornando a população produtiva por mais tempo.

quinta-feira, março 24, 2011

Epicondilite lateral e os resultados a longo prazo do uso de patch de nitrato

Boa noite a todos da comunidade Sports Medicine Brasil estamos iniciando nossos tópicos tendo como base sempre um artigo recente. Nesse caso utilizamos um artigo do British Journal of Sports Medicine falando a respeito de epicondilite lateral, tratamento com patch de nitrato e seus resultados a longo prazo, foi publicado na edição de abril de 2011, pelo Dr Sebastian DA McCallum.
Epicondilite lateral é uma tendinopatia degenerativa associada com dor região lateral do cotovelo. A prevalência na população é de 1 a 3%, com um pico de incidência de 40 a 54 anos. Apesar de ser conhecida como “cotovelo do tenista” apenas 5% dos casos são causados por esportes com raquete.
O manejo desta patologia consiste em repouso, brace de antebraço , alongamento e programas de fortalecimento. Outras opções terapêuticas incluem o uso de analgésico comum, AINH, infiltração com corticóide, acupuntura, terapia de onda choque, terapia de laser e cirurgia.
Um dos tratamentos mais controversos consiste no uso de AINH, estudos demonstraram melhora nos sintomas da dor a curto prazo, até mesmo no uso de AINH tópico. No entanto, existe muita discussão em torno do uso agudo, pois, quadros mais crônicos demonstraram quadros inflamatórios mínimos. Além disso, existe risco potencial de lesão tendínea em relação ao uso de anti-inflamatório através da formação aumentada de leucotrieno.
Outra prática comum são as infiltrações com corticóide no tratamento da epicondilite lateral aliviando a dor e reduzindo a incapacidade. Efeitos benéficos de curto prazo incluem diminuição da dor e aumento da força de apreensão da mão. Porém, não apresentam resultados mais duradouros, sendo, o repouso, fisioterapia e terapia medicamentosa mais vantajosas a longo prazo.
O uso de órteses, fisioterapia, terapia de onda de choque, terapia com laser e acupuntura ainda necessitam de maiores evidências em relação ao uso e a contra-indicações de uso.
Enfim, existem diversas opções cirurgicas que incluem excisão do tecido degenerativo, liberação do tendão extensor comum, e debridamento da origem do tendão comum com liberação do ligamento anular. Entretanto, o tratamento cirúrgico só é indicado após esgotadas as opções de tratamento conservador.
O tratamento com glicerol tópico tem demonstrado eficácia a curto prazo no tratamento da epicondilite lateral crônica e outras tendinopatias crônicas. Dentre as patologias que apresentaram melhora incluem-se a epicondilite lateral, tendinopatia do supraespinhal e tendinopatia de Aquiles. Não se conhece o mecanismo exato da ação do glicerol trinitrato tópico. Como o glicerol trinitrato é um precursos do NO, é sugerido que o NO seja importante para o volume do tecido sintetizado durante a cura do tendão e promove a síntese de colageno pelos fibroblastos.
O estudo objetivava acessar se as melhoras notadas aos 6 meses em relação aos sintomas de dor em repouso, dor em atividade, dor noturna, força de apreensão da mão com dinamometro e extensão do punho persistiriam por até 5 anos.
O estudo foi dividido em dois grupos diferentes: grupo placebo e grupo glicerol trinitrato. Os pacientes foram avaliados antes, aos 6 meses de tratamento e após 5 anos. Apesar da melhora significativa de ambos os grupos em relação aos sintomas, o uso do nitrato não mostrou benefício em relação ao grupo placebo.
Era de se esperar que o estímulo na produção do colágeno pelo nitrato tópico pudesse produzir efeitos de longa duração. Além disso, o nitrato seria responsável por modular a resposta apoptótica celular.
As limitações do estudo foram a falta de tratamento controlados no período entre 6 meses e 5 anos, podendo servir como fator de confusão.
É interessante notar que o artigo enfoca os efeitos duradouros do tratamento de epicondilite lateral, chamando atenção sobre as possíveis maneiras de se encontrar um tratamento mais eficaz para esta patologia. Outro ponto importante, foi o fato de colocar em dúvida tratamentos que além de não serem tão efetivos podem se tornar danosos como no caso do AINH. Outros ainda necessitam de maiores de estudo, tanto para comprovar o seu benefício como para confirmar que realmente não são eficazes.
De maneira geral, o tratamento da epicondilite lateral ilustra a dificuldade vivida pelo médico do esporte e tantos outros profissionais ligados a área esportiva, quando não existe um tratamento efetivo de uma doença multifatorial.

terça-feira, março 15, 2011

Bem-vindos ao Sports Medicine Brasil – SMB!

O objetivo do Sports Medicine Brasil é criar um espaço onde possamos discutir assuntos relevantes para o desenvolvimento da medicina do esporte em nosso país. O SMB é o ponto de encontro para discussões sobre medicina baseada em evidências, questões práticas, aspectos éticos, e quaisquer questões relacionadas à medicina do esporte e do exercício.
O nosso primeiro Post é sobre o editorial escrito pelo Dr. Andrew Franklyn-Miller no British Journal of Sports Medicine de fevereiro de 2011. Neste, o Dr. Franklyn-Miller chama a atenção para a crença de que a prática médica no esporte apresenta aspectos únicos, sendo comum o uso de todo tipo de tratamento disponível na tentativa de conseguir-se um retorno precoce ao esporte. Em seu texto, o Dr. Franklyn-Miller demonstra uma grande preocupação com esta situação, pois ela pode levar ao uso de terapias que não apresentam resultados comprovados. Além de preocupar-se com o fato deste tipo de conduta ser falha, o editorial acredita que possam comprometer o desenvolvimento de evidências científicas, minar a credibilidade da especialidade, sendo ainda eticamente questionáveis.
A medicina baseada em evidências, apesar de todas suas limitações, representa um componente vital da boa prática clínica e aumenta a confiança do paciente na medicina. A boa prática médica demanda que busquemos pela melhor evidência de eficácia e segurança na escolha de nossas condutas terapêuticas. É inadmissível que a medicina do esporte, uma especialidade que passa por um momento rico de sua história, em termos de pesquisa científica, ignore o uso de condutas baseadas em evidências. Depende, então, dos profissionais que atuam na área, agirem de forma consciente e responsável para o desenvolvimento de uma medicina do esporte da qual possamos ter orgulho de fazer parte.