Saudações amigos do Sports Medicine Brasil, hoje iremos abordar mais um tema baseado em um artigo, desta vez, o jornal Circulation serviu como base para criação de nosso tópico.
A publicação ocorreu em agosto de 2010, e trouxe a tona a questão: existe fonte da juventude? Com certeza, a resposta é não, mas, hoje existe comprovação de que hábitos saudáveis de vida podem prolongar a vida e inclusive a melhora de sua qualidade. Baseado nesse fato, o Dr. Peter Kokkinos e colegas exploraram a capacidade de exercício e a relação com o risco de mortalidade em adultos idosos.
Estudos epidemiológicos já descrevem relação inversamente proporcional entre condicionamento físico e mortalidade tanto em indivíduos aparentemente saudáveis como naqueles com doença cardiovascular documentada. No entanto, essas evidências foram vistas em indivíduos de meia-idade.
Estima-se que os gastos com saúde devem aumentar drasticamente em um futuro próximo, tal fato se deve pelo envelhecimento da população americana. Pensando nisso o governo norte-americano tem encorajado um estilo de vida mais saudável, na qual, seria inserida uma rotina de exercícios físicos. Os benefícios seriam traduzidos em diminuição de problemas de saúde que reduzem a qualidade e o tempo de vida dos idosos.
O objetivo do estudo foi relacionar o condicionamento físico e o risco de mortalidade em indivíduos idosos. Dessa maneira, predizer se a performance em um teste de tolerância ao exercício poderia prever a mortalidade por todas as causas.
Foram recrutados 5314 homens com idade média de 70,5 anos que foram divididos em dois grupos distintos: 65 a 70 anos e >70 anos. Foram excluídos aqueles que tinham marca-passo, desenvolveram BRE durante o teste, tinham ICC classe II ou maior e aqueles que não conseguiram completar o teste devido a questões músculo-esqueléticas ou vasculopatia periférica, além de indivíduos positivos e confirmados com cintilografia miocárdica ou cateterismo.
Os indivíduos foram questionados quanto a doenças crônicas, uso de medicação, tabagismo, peso e altura foram gravados antes do teste de esforço e foi calculado o IMC.
A capacidade de exercício dos indivíduos do Veterans Affairs Medical Center, Washington, DC, foi realizado com protocolo de Bruce. Para os indivíduos do Veterans Affairs Palo Alto Health Care System, foi utilizado um protocolo individualizado de rampa.
Foram estabelecidas categorias de condicionamento baseado no nível de MET atingido. Foi utilizado a vigésimo percentil de METs (≤ 4 METs) também empregado em estudos anteriores e aqueles que alcançaram > 9 METs apresentaram o maior grau de condicionamento físico.
A mortalidade anual para os grupos 65 a 70 e > 70 anos foram: 40 por 1.000 e 49,6 por 1.000 pessoas-ano.
Os dados mostraram achados inversamente proporcionais entre capacidade de exercício e risco de mortalidade por todas as causas. Para cada 1 MET aumentado na capacidade de exercício, o risco de mortalidade era 12% menor para a Coorte inteira e para os dois grupos etários. E o risco de mortalidade declinou significantemente para as demais categorias de capacidade de exercício, variando de aproximadamente 40% para os que alcançaram 5,1 a 6 METs para 60% para os que alcançaram > 9 METs.
Comparado com indivíduos mal condicionados em ambos os testes o risco de mortalidade foi 61% menor naqueles que eram bem condicionados em ambos os testes. Indivíduos mal condicionados no primeiro teste que se tornaram bem condicionados apresentaram 34% de risco de mortalidade diminuído, enquanto, indivíduos bem condicionados que tornaram-se mal condicionados no segundo teste apresentaram diminuição de 41 % do risco de mortalidade, sugerindo efeitos duradouros da atividade física.
Apesar de bastante promissor o estudo apresentou algumas limitações como apenas apresentar mortalidade por todas as causas, sem discriminar a mortalidade por doenças cardiovasculares, não foram informados os padrões de atividade física dos indivíduos, assim como severidade das doenças crônicas e finalmente, informações relativos a padrão alimentar. Além disso, o fato da utilização de dois protocolos diferentes também é visto como limitação.
O estudo suporta uma relação inversamente proporcional entre capacidade de exercício físico e risco de mortalidade em indivíduos de 65 a 92 anos. Principalmente, quando o indivíduo apresentava capacidade > que 5 METs . Este nível de condicionamento pode ser alcançado em indivíduos idosos com a prática de 20 a 40 minutos de exercícios moderados diários, como caminhada. Essa associação pode ter impacto importante na saúde pública, principalmente, em virtude do envelhecimento da população.
Não podemos criar expectativas em busca de algo impalpável como a “fonte da juventude”, mas, através de políticas de incentivo a prática de atividade física, orientação da população pode-se melhorar a qualidade de vida de todos e ainda diminuir o risco de mortalidade por todas as causas. Além do benefício próprio do praticante de atividade física, deve ser levado em consideração os ganhos indiretos, como diminuição dos gastos com saúde, tornando a população produtiva por mais tempo.
6 comentários:
Muito bom o artigo, ele só valoriza mais ainda a Medidina do Esporte.
Acho que hoje já está bem estabelecido o papel do exercício na qualidade de vida, na diminuição do risco de mortalidade e tb na sua influencia no fatores socioeconomicos. Mas sempre se fala em atividade física moderada. Será que a atividade intensa e de baixo volume já deixa de ser benéfica e passa a aumentar os riscos cardiovasculares? No meio médico vejo ainda muitos profissionais com "medo" da intensidade, mas muitos estudos já demonstram o benefício da atividade intensa mesmo em pós-infartados e em pacientes com síndrome metabólica. Acho que precisamos continuar estudando e perder esse "medo" de orientarmos uma atividade intensa. Porque na nossa sociedade, o tempo disponível para prática de exercício é cada vez menor.
Aqui vai o link do artigo:http://circ.ahajournals.org/cgi/content/full/122/8/790
Abraços.
Realmente, fonte da juventude não existe. Mas, Vamos pensar:o desenho e o resultado deste estudo, a diminuição da mortalidade mesmo o sujeito envelhecendo( teste refeito após alguns anos) me faz pensar que o exercício é a intervenção(maneira) mais próxima de uma possível fonte da juventude. Ou seja, um sujeito que era sedentario tinha uma mortalidade X. Após dez anos, este mesmo sujeito faz outro teste e sua capacidade está melhor que no primeiro. Portanto seu risco é menor. E estatisticamente tem menor chance de ter um evento fatal do que quando era dez anos mais jovem.
Grande abraço a todos...
Excelente escolha postar esse assunto. Na minha opinião temos dificuldade em implementar medidas preventivas, é da nossa cultura pensarmos sempre em resultados imediatos... Este post, entretanto, traz mais uma prova da importância e do impacto do exercício como prevenção primária!
Muito boa sua escolha...Na verdade já existem dados mostrando essa realidade há algum tempo. Como os trabalhos realizados no EUA que mostram que a cada dólar investido em atividade física (tempo e equipamento) econimiza se 3,2 dólares nos custos médicos ou os trabalhos Australianos os quais mostraram que para cada 1% de incremento no nível de atividade física em adultos, existe uma economia estimada de aproximadamente 7 milhões nos custos de potenciais tratamentos para ataque cardíaco, derrame, diabetes, câncer de cólon, câncer de mama e quadros depressivos. Acredito que nosso grande desafio, não só no Brasil mas no mundo todo, seja arquitetar estratégias eficientes na implementação desses conhecimentos para, ai sim, colhermos os frutos. Parabéns mais uma vez!!!
Nem sabia dessa questão financeira em relação a prática esportiva, mas, com certeza deve ser levada em consideração em termos populacionais. A cada dia nos deparamos com novas vantagens em se adotar uma vida mais saudável.
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