sexta-feira, abril 12, 2013

Dividir para Conquistar?


                Caro leitor, este post é um pouco diferente dos que você está acostumado a ler no blog. Nele não discutiremos lesões ou reabilitação no esporte, não abordaremos temas de nutrição esportiva, não discutiremos fisiologia do exercício. Apesar disso, talvez este seja o texto que melhor representa a medicina do esporte entre todos que publicamos até hoje em nosso blog.
                O objetivo deste post é chamar a atenção para a necessidade para uma medicina que entenda o paciente como uma pessoa, não como um coração, um joelho ou qualquer outro pedaço de alguma coisa. Uma pessoa é a complexidade de corpo, mente, espírito, estilo de vida, ações, pensamentos, angústias, relacionamentos... Realmente impossível compreendermos esse todo, mas devemos tentar chegar o mais próximo possível. Acredito que seja esta a melhor forma de ajudarmos nossos pacientes, as pessoas que nos procuram em momentos de dificuldade.
                Certamente é muito mais fácil apelar para o Cartesianismo, dividir e especializar. Muitas vezes os resultados imediatos podem ser substancialmente mais satisfatórios quando fechamos os olhos para o todo. Uma infiltração com corticoesteróides em um tendão doente o fará ser o melhor médico do mundo para o paciente que teve a dor “tirada com a mão”. Já uma recuperação bem planejada que objetive recuperar a estrutura lesionada e corrigir fatores desencadeantes (aqui vale lembrar: corpo, mente, espírito), pode demorar certo tempo para trazer resultados - isso se você conseguir que seu paciente entenda e se comprometa com o plano de trabalho. Além disso, mesmo com o comprometimento total ao tratamento, os resultados não são tão previsíveis quanto os da infiltração com corticoide ou do uso prolongado de anti-inflamatórios.

A medicina vive um momento Frankenstein, mostrando dificuldades em entender o todo.


Mas então, por que insistir nesta abordagem? Ela é demorada, trabalhosa e certamente menos custo-efetiva (em termos de dinheiro, remuneração por hora de trabalho).

Devemos insistir por acreditar estar fazendo o melhor para nossos pacientes.


                Algumas vezes, de fato, avaliações e tratamentos específicos são muito bem-vindas. Uma avaliação com cirurgião de pé e tornozelo me parece muito bem indicada no caso de uma instabilidade crônica de tornozelo que não responde a uma boa reabilitação. A própria infiltração com corticoesteródes pode ter seu espaço em casos selecionados. Esta, entretanto, não deve ser a principal forma de prover saúde, mas sim ser usada para problemas pontuais.

Exceto para o caso de você ser o médico da família Addams, é importante que entenda seu paciente como um todo.

                Acredito que para desenvolvermos uma medicina que contemple o ser humano como um todo tenhamos que voltar a nossas raízes, reaprender com o médico de tempos remotos, o médico da família. Vejo alguns esboços deste retorno à busca do todo na medicina e fico feliz de que a medicina do esporte, na última década, seja um grande exemplo desta busca. Conheço muitos colegas que mantém esta visão apesar dos conselhos dos mais experientes (e bem sucedidos) colegas sobre a necessidade de se subespecializar. Ao invés disto buscamos ampliar mais a visão, nos relacionando e trocando experiências com colegas de outras especialidades, educadores físicos, fisioterapeutas, psicólogos, nutricionistas. Continuamos nadando contra a correnteza.



Fábula dos homens cegos e o elefante. Nenhum deles realmente percebe o animal.

Para finalizar, deixo este link do Departamento de Medicina de Família da Universidade de Wisconsin:

É a página de Medicina Integrativa. Sim, algo com muito espaço para picaretagem (mas não acontece o mesmo na medicina do esporte, com todos estes prescritores de anabolizantes usando o nome de nossa especialidade?), mas com muitas pessoas sérias também.

4 comentários:

Anônimo disse...

Excelente pos Gustavo. Parabéns pela iniciativa em tocar nesse assunto muitas vezes negligenciado. Abraços, Marconi Gomes BH/MG

Unknown disse...

"Exceto para o caso de você ser o médico da família Addams"
kkkkkkkkkkk
Muito bom!!!

Unknown disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Unknown disse...

Gustavão, parabéns pelo blog! Com certeza é o melhor de medicina esportiva no Brasil. Fico muito feliz em poder ler artigos tão bem escritos, relevantes, embasados cientificamente e muito bem ilustrados.
Concordo plenamente com a relação que fez entre a Medicina de Família com a Medicina do Exercício e Esporte!
Grande abraço.
Fabrício Naves


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